A herança do desemprego

Boia-fria numa plantação de São Paulo

A economia brasileira desliza sobre um céu de brigadeiro, é o que dizem os jornais. A ideia que a imprensa nos passa é de que estamos muito bem economicamente, enquanto o resto do mundo, principalmente a Europa está em crise seriíssima com inflação nas alturas e forte desemprego. Mas o Brasil está tão bem mesmo?

Longas horas de trabalho nas plantações de cana

Em Poção de Pedras, um pedacinho do Brasil, o desemprego é um problema social preocupante. Excluindo o comercio e os órgãos públicos, não existe uma única indústria em nosso município capaz de gerar emprego e renda aos trabalhadores desempregados. O resultado desse entrave social é que pais de família e jovens são obrigados a procurarem empregos sazonalmente em outros estados. É uma tristeza, não exclusiva nossa, mas de muitos municípios maranhenses onde o desemprego é acentuado, ver-mos pais de famílias deixarem esposa e filhos para buscar o sustento em lavouras de cana de açúcar no interior de São Paulo. Imagine a calamidade de ser obrigado a procurar serviço temporários há mais de 3000 quilômetros de distância? E o trabalho realizado por lá é um dos mais desgastantes possível. Algumas chegam a mais dez horas de jornada de trabalho em plantações insalubres só com o fito de ganharem mais um pouquinho.

Os bóias-frias de sangue poçopedrense enviam boa parte do dinheiro para os familiares aqui. Os jovens que ainda não tem família, economizam o máximo para voltar com a moto dos sonhos!

É fácil identificar um cortador de cana recém chegado de São Paulo: tênis novos, aparelho cdplay, TV LCD no bagageiro, polchete na cintura e andar desengonçado. São os novos garimpeiros do nordeste!

Bóias-frias recém chegados de São Paulo.
 Mudança no visual. A hora  é de gastar o dinheiro!

E semelhante aos garimpeiros, a maioria dessa moçada  (pois não estou me referindo aos pais de família que fazem o mesmo percurso) não valorizam o dinheiro que foi ganho com tanto suor e labuta. Desperdiçam facilmente o dinheiro que foi ganho com trabalho duro no gargalo de cervejas e outras bebidas alcoólicas. Todo o resultado da viagem para o interior paulista é praticamente desperdiçado no luxo e na luxuria. - Oh, filhos pródigos de nossa Poção de Pedras!

E então, quando volta para a realidade, estão novamente lisos e precisam urgentemente voltar para as insalubres plantações de cana de açúcar para se reabastecerem de dinheiro. Eles, no entanto, não têm sequer o dinheiro para pagar a passagem de ônibus. Dinheiro na mão é vendaval mesmo! Acabam recorrendo a agiotas, a aposentados, a amigos, a parentes, que lhes financiem o regresso para o trabalho braçal nas plantações das indústrias de açúcar, álcool e etanol do estado de São Paulo.

E em se tratando de política, a maioria esmagadora dessa gente se diz eleitora dos candidatos da oposição. Acredito que sejam mesmo! Todavia, esses votos estão comprometidos em razão da grande possibilidade desse povo estar longe de casa no dia da eleição.

E isso é porque a crise financeira internacional não nos atingiu!