Testemunhas de defesa e Polícia serão ouvidas no Caso Décio Sá
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Essa será a segunda semana
de audiências sobre o assassinato do jornalista e blogueiro, em abril do ano
passado.
Imirante.com, com
informações de O Estado
SÃO LUÍS - A partir desta
segunda-feira (13), serão ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa dos
reús, além de policiais e delegados que trabalharam nas investigações sobre a
morte do jornalista e blogueiro Décio Sá. O juiz Márcio Castro Brandão, da 1ª Vara
do Tribunal do Júri, informou que já digitalizou o processo para inseri-lo no
“Programa Justiça Plena”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), lançado em
novembro de 2010 para monitorar e dá transparência ao andamento de casos de
grande repercussão social, entre eles os relacionados a questões criminais.
Audiências
A primeira semana de
audiências se cumpriu e foi marcada não apenas pela divisão do processo, mas
principalmente por promessas de revelações do executor do crime e alegação de
inocência de um dos acusados de serem os mandantes do crime, o agiota Gláucio
Alencar Pontes Carvalho, de 35 anos, acusado de encomendar e financiar a morte
do jornalista da editoria de Política de O Estado.
Continua com resumo de todas audiências da semana passada
2º Dia – Na terça-feira (7),
a defesa do pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 25 anos, assassino
confesso de Décio Sá, declarou que o réu fará revelações à Justiça não
compartilhadas ao inquérito policial. Segundo Pedro Jarbas, um dos defensores
do assassino confesso, o depoimento do criminoso será decisivo para que
mandantes e intermediadores do crime sejam, de fato, punidos. “Nosso
compromisso é contribuir para que a verdade prevaleça”, disse Jarbas.
Em entrevista à imprensa, o
advogado do matador afirmou que ele está arrependido da vida que escolheu e que
por isso quer contribuir para que todos os envolvidos neste crime de homicídio
sejam identificados e condenados. “Nessa disposição, inclusive, o Jhonatan
demonstra profundo arrependimento, principalmente, por até o momento, não ter
conhecido a própria filha que nasceu em meio a todo esse evento”, disse o
advogado ao fim do segundo dia de oitivas.
Das 10 pessoas aguardadas
pelo MP, naquela data, seis prestaram depoimento no Salão do Júri, a maioria
jornalistas e blogueiros que cobrem o cotidiano político no Maranhão. Entre
aqueles que não se furtaram a conversar com a imprensa estão os jornalistas
Itevaldo Júnior, Caio Hostilio, Marco Aurélio D’Eça e Marcelo Gomes Vieira, que
falaram sobre o perfil profissional do colega Décio Sá, e o vereador Fábio Câmara
(PMDB), amigo e compadre do jornalista assassinado.
3º Dia – No terceiro dia de
audiências, quarta-feira (8), a imprensa finalmente foi permitida a acompanhar
a sessão, e foi surpreendida pelo agiota Gláucio Alencar Carvalho, que alegou
ser inocente da morte de Décio Sá. A afirmação do homem que é denunciado de
faturar milhões de recursos públicos destinados às prefeituras foi feita
espontaneamente, segundos antes da abertura dos trabalhos. Ao perceber a
presença dos jornalistas, o acusado se aproximou e afirmou:
- Gente, eu não fiz isso
aqui. Vocês vão saber quem fez isso. Estão fazendo uma campanha contra mim,
porque existe uma pessoa muito maior nessa história. A pessoa que fez isso vai
aparecer, ela vai cair. Eu tenho fé em Deus nisso - alegou o agiota, defendido
pelo advogado Adriano Cunha, e acompanhado do pai, José de Alencar Miranda
Carvalho, de 73 anos, também acusado de liderar a quadrilha, preso em poder de
37 talonários de cheques em branco, assinados por prefeitos.
Neste dia também foram
ouvidos vizinhos de uma casa, no Parque dos Nobres, de propriedade da família
de Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha, de 33 anos, acusado de ser um dos
intermediadores do crime; um vigilante, ex-funcionário de Gláucio Alencar, e
uma professora cujo nome está no documento da motocicleta utilizada no crime,
mas que não tem ligação com o bando. Prestou depoimento ainda o dono de uma
concessionária de veículos, preso pela Polícia Federal em 2011.
Uma ex-companheira de
Shirliano Graciano de Oliveira, o Balão, de 29 anos, único acusado foragido,
também compareceu, mas pouco foi interrogada. A última a depor nesse dia foi a
única que optou por usar a balaclava (capuz) para não ser reconhecida. A mulher
afirmou ter visto em frente ao imóvel da família de Bochecha os acusados
Jhonatan, Miranda e José Raimundo Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, de 38 anos,
outro acusado de intermediar o crime, descrito fisicamente pela depoente.
4º Dia – No último dia de
audiências, quinta-feira (9), dois depoimentos marcaram os trabalhos da defesa
dos réus e do promotor do caso. Na sequência de oitivas, depuseram o jornalista
e ex-vice-prefeito da cidade de Barra do Corda Aristides Milhomem, última
pessoa a falar ao celular com Décio Sá, e o delegado da Polícia Federal Pedro
Meireles, investigado pela própria instituição de suposta participação na rede
de agiotas, que aproveitou para se defender.
Das duas testemunhas,
Aristides Milhomem foi o primeiro a depor ao promotor de Justiça da 1ª
Promotoria do Tribunal do Júri, Luis Carlos Correa Duarte. Em depoimento, o
ex-vice-prefeito de Barra do Corda se declarou amigo de Décio Sá, com quem
trocava informações profissionais e com quem costumava almoçar sempre que
possível. Segundo apurou a Polícia Civil do Maranhão, Milhomem foi a última
pessoa para quem Décio Sá ligou, minutos antes de ser executado, em São Luís.
O teor da conversa, segundo
o depoente, foi Décio Sá lhe perguntando se ele já havia visto em seu blog
(blogdodecio.com.br) a “postagem de Barra do Corda”: Pistoleiros pedem
transferência do júri de Pedro Teles para capital alegando “jogo de cartas
marcadas”, publicada no dia 23 de abril, momentos antes do crime. “Décio me
ligou às 22h30 e, depois de poucos minutos de conversa, ouvir um barulho
semelhante ao de uma ‘flecha atravessando o ar’”, disse o ex-gestor.
Em seu depoimento, Milhomem
também respondeu a perguntas da defesa de Gláucio Carvalho, acerca das 38
publicações do blogueiro contra a família Teles, e exaltou o trabalho do colega
jornalista. “Décio era um jornalista corajoso e sempre perseguia a verdade,
independente de quem fosse o denunciado. Uma vez lhe perguntei: Você não tem
medo de morrer? e ele respondeu: ‘Se eu tivesse medo de morrer pelas coisas que
escrevo, eu não seria jornalista’”, concluiu o ex-vice-prefeito.
Delegado
A última testemunha de
acusação a depor foi o delegado da PF Pedro Meireles. Por ser investigado de
suposta participação na rede de agiotas, chegou a apresentar um relatório da
Controladoria Geral da União (CGU), que comprovaria que 96,34% dos recursos
públicos federais destinados à Prefeitura de Serrano do Maranhão tinham sido
desviados. O documento foi mostrado por Meireles porque o ex-gestor do
município Vagno Pereira, o Banga, o denunciou de fazer parte da quadrilha,
depois que foi preso em 2010.
- O resultado da
investigação está no relatório da CGU. Foram sacados mais de R$ 2,7 milhões de
recursos públicos na gestão do ex-prefeito, portanto, acredito que isto já é o
suficiente para colocar em discreto a denúncia de que a operação teria sido
armada, uma vez que, antes de qualquer uma ação ser deflagrada, é necessário
que esta seja avaliada e autorizada - defendeu-se o delegado, que disse ter
tomado conhecimento do crime pela internet e que foi ao local apenas por curiosidade.
Essa será a segunda semana
de audiências sobre o assassinato do jornalista e blogueiro, em abril do ano
passado, em um bar na avenida Litorânea.
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