Entrevista com Roseana Sarney
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“Vamos deixar o Maranhão bem estruturado”, diz
Roseana em entrevista
O Estado - Governadora, que balanço a
senhora faz da área da cultura em 2013 e que projetos devem ser desenvolvidos
em 2014?
Roseana Sarney - Demos um grande passo na
área da cultura desde 2012, com o PAC das Cidades Históricas, que foi lançado
há 15 anos, no meu primeiro governo. Isso estava sem realizações há algum tempo
e agora o Governo Federal decidiu fazer. O que era necessário para o Maranhão?
São Luís é uma cidade histórica, talvez a mais importante do Brasil, porque
aqui nós temos o maior sítio histórico do país, mais de 2.300 prédios tombados.
Nós temos toda uma história e somos Patrimônio Histórico da Humanidade, adotado
pela Unesco. Nós tínhamos preparado São Luís para este momento e tínhamos
trazido historiadores do mundo inteiro para transformá-la em Centro Histórico.
Eram três especialistas: um da Universidade de Lisboa, um norte-americano e um
da Unesco. Depois disso, com o estudo que foi feito por eles e a recomendação
deles, nós começamos a fazer uma restauração do nosso sítio histórico.
Começamos pela Praia Grande.
Continua...
Tinha sido feita uma coisa muito pequena pelo
governador Cafeteira, 10 quarteirões. Então, os especialistas escolheram 50
quarteirões para que a gente fizesse a restauração, embutíssemos toda a parte
de telefonia, toda a parte elétrica, restaurássemos também alguns prédios
históricos, déssemos vida ao Centro Histórico. Nós restauramos os 50
quarteirões e transformamos prédios que eram do Governo do Estado em
residências para funcionário público, fizemos a Casa do Maranhão, a Casa do
Artesanato, a Casa do Artista, enfim, restauramos toda a parte dos museus, que
eram 28 casas de cultura. Saí do governo, em março de 2002, e quando retornei,
em maio de 2009, para minha surpresa tudo o que nós tínhamos feito continuava
como estava, não foi dada uma sequência. Parou ali e ficou sete anos sem ser
feito nada. E tudo que é antigo, se você não dá uma revisão sempre, não está
sempre restaurando, vai embora. Então, foi isso. A gente teve de preparar tudo
novamente. E com esse PAC das Cidades Históricas, o Iphan não tinha recursos
para contratar uma gerenciadora para fazer projetos, e o Governo do Estado
entrou com essa parte, que é em torno de R$ 16 milhões. Contratamos, e agora
estamos fazendo os projetos com o Iphan. Estamos dando sequência a esse grande
projeto que foi feito lá atrás e ficou parado durante sete anos. Essa
restauração que está sendo feita na Igreja da Sé e no Museu de Arte Sacra nós
já tínhamos feito, mas, como não foi preservado, temos que fazer de novo. Estes
casarões precisam sempre de manutenção, e é isto que nós estamos fazendo para
ser um Centro Histórico respeitado no Brasil.
E além desses projetos,
governadora?
Claro que na área de cultura
popular a gente continua dando força para as festas populares do Maranhão para
preservar nossas raízes. Estamos fazendo livros de editoração, revitalizando as
casas de cultura. Algumas já estão sendo colocadas nos sites para ter
visitação, já fizemos a biblioteca (Pública Benedito Leite), que está bem
modernizada, e estamos fazendo ações no interior também.
Governadora, neste ano
tivemos grande destaque no cinema, com alguns filmes maranhenses tendo destaque
nacional. Há algum projeto de cursos de aperfeiçoamento para revelar esses
novos talentos na área cinematográfica no Maranhão?
Nós fizemos a Lei de
Incentivo à Cultura, que eu acho que é uma das coisas mais importantes na área
da cultura, que vai possibilitar, na área do cinema, do teatro, em qualquer
área, a captação de recursos e empregar na área que for aprovada pelo comitê
que sanciona esses projetos.
Governadora, a Lei de
Incentivo ao Esporte, instituída recentemente, ajuda muito o esporte amador,
mas o futebol profissional, que tem destacado o Maranhão nacionalmente, ficou
de fora. E recentemente houve uma mudança no texto, que foi aprovada, e está
faltando a sanção da senhora para ela entrar em vigor em 2014. Qual a previsão
para esta sanção?
Esta é uma coisa que a gente
está discutindo. Eu acho, claro, que é preciso dar uma força para os esportes
profissionais, mas eu creio que a gente precisa dar uma maior força ainda para
os esportes amadores. Se a gente está fazendo uma lei que é para ajudar a
incentivar o esporte do nosso estado, ela não precisa ter para o esporte
profissional. O esporte profissional é dos clubes. Eles são independentes e têm
o dinheiro deles. Eu já fiz o Nota na Mão, que ajuda bastante os clubes
profissionais. O que eu quero é desenvolver o esporte amador do nosso estado,
porque não adianta você ter um clube de futebol e ter de pegar jogadores de
outros do país para montar um time. Eu quero que atletas maranhenses joguem nos
nossos times. Eu quero que a gente possa ter representatividade também no nosso
esporte. Como hoje a gente já vê uma atleta de handebol, que acabou de ser
campeã, no basquete. Eu acho que a gente tem de incentivar nossos atletas. Essa
mudança no texto pode até abrir uma fatia desse dinheiro para os clubes, mas eu
vou fazer uma limitação. Eles já têm dinheiro e ingresso. Vendem camiseta. O
amador é que não tem de onde tirar.
Já foi reformado o Castelão
e agora o Estádio do Moropoia, em parceria com a Prefeitura (de São José de
Ribamar), mas o Costa Rodrigues, que é um templo do esporte amador, ainda não
ficou pronto. A senhora pode dar uma previsão de quando a obra será concluída?
Nós conseguimos uma emenda
do Governo Federal na qual nós demos uma contrapartida, e esta emenda era até
certo limite. Então, foi feita uma primeira licitação até esse limite. Foi
entregue até esse limite e agora o Estado vai assumir sozinho. O resto nós
vamos entregar até o fim do ano. Isso tudo porque receberam o dinheiro e deram
como concluído e nós atrasamos a obra porque quem iria responder por essa obra
que não foi feita, que foi recebida como se fosse feita, seria eu. E aí eu
estaria corroborando uma coisa que não era correta. Como é que a pessoa gastou
R$ 5,5 milhões numa obra, disse que estava toda pronta e a obra estava toda no
chão? Então, conseguimos uma emenda. Passamos dois anos para que o Ministério
Público tomasse conhecimento e nos autorizasse a fazer a obra. A partir do
momento em que o Ministério Público disse que podíamos continuar, nós fizemos a
licitação, e dentro dessa primeira parcela de R$ 2,3 milhões ou R$ 2,8 milhões,
não lembro o valor exato, foi feita a primeira etapa. Como acabou o dinheiro
federal, o Estado vai entrar para concluir a obra, e eu já disse que não saio
sem essa obra estar concluída.
Governadora, o que a senhora
acha que faltou para São Luís ser uma subsede da Copa do Mundo? Isto está
descartado?
Não, não está descartado
ainda. Mas a gente tentou porque nós temos estádio. Eu disse inclusive que a
gente poderia ceder o estádio. O nosso estádio é completo. A Alemanha pegou um
terreno na Bahia e vai construir uma sede. Eu cedo o estádio porque dentro dele
tem lugar para fazer tudo. Até cozinha tem lá. Então, se eles fizerem, se a
gente fizer, não tem problema. Eu estou tentando, porque Fortaleza vai sediar
quatro jogos, não serão fixos, e nós estamos muito distantes das outras sedes.
A mais próxima é Fortaleza. Então, para eles pegarem um avião vai se cansar
muito. Eles querem ficar no mesmo hotel durante a Copa e só se deslocar para o
local dos jogos. Se tivesse aqui, Belém, mas São Luís, Manaus, são três horas
de voo. É difícil mesmo.
Recentemente, a senhora
apareceu com a camisa do Sampaio. A governadora torce pelo Sampaio?
A vida inteira. Eu tenho um
tio falecido, irmão de minha mãe, que foi presidente do Sampaio Corrêa, José
Carlos (Macieira). Era médico, foi presidente. Então, eu ia lá, conheço o
campo, eu ia em jogo no Nhozinho Santos e ele era Sampaio Corrêa. Os meninos
não eram e as mulheres lá de casa, eu e minha mãe, ficamos Sampaio Corrêa. Os
meninos são Maranhão, e meu neto agora é Moto Clube.
Muito se comenta sobre a
demanda de médico por habitante no Maranhão, que ainda está aquém disso, mas o
governo está agindo, inclusive construindo hospitais na capital e no interior.
Nesse aspecto, em que avançou seu governo em 2013?
O maior avanço, na realidade,
vai ser em 2014. Em 2013, a gente avançou um pouco mais. A gente tinha proposto
a entrega dos 62 hospitais de 20 leitos, mas não conseguiu entregar os 62. Nós
entregamos 29 dos de 20 leitos. Mas já foi um avanço para onde não tinha nada,
pois entregamos com médicos, equipamentos, com tudo. Do restante, nós já temos
totalmente concluídos mais 18, faltando alguns equipamentos e alguns faltando
médicos. Então, nós estamos reformulando os hospitais de 20 leitos, que são nas
cidades menores, estamos reformulando o conceito, que é oferecer a saúde
básica. Não serão hospitais de média ou alta complexidade. Vai ser um hospital
de atendimento básico, coisas que, para resolver, se pegava uma ambulância e ia
para outro hospital. Se tiver um caso mais complicado, a pessoa será levada
para um hospital maior. Antes, o projeto previa salas de cirurgia. Hoje, nós as
estamos tirando porque há uma obrigatoriedade em termos de anestesista
permanente em cada um desses hospitais. Nós estamos tendo problemas com anestesistas
permanentes. Nós temos uma equipe de anestesistas. Então, nestas minhas viagens
para o interior pelo Governo Itinerante, nós fazemos alguns mutirões de
cirurgias. Teve dias em que operamos 30 pacientes de hérnia, fizemos operações
de catarata e outras cirurgias. Isso serve como um adiantamento. Nos casos mais
complexos, os pacientes terão de se deslocar para um centro maior. Todos estes
hospitais que nós estamos inaugurando têm um centro de atendimento onde, se
existe uma situação emergencial e complicada, imediatamente outro hospital que
possa atender será disponibilizado e o paciente deslocado.
O programa no interior vai
bem?
Dos 72 hospitais, nós
fizemos uma reformulação. Dos que não estavam na programação, já começamos o de
Bacabal, o de Santa Inês, o de Pinheiros, o de Balsas, o de Imperatriz, o de
Viana. São hospitais que não estavam na programação e nós estamos fazendo. Por
que nós reformulamos? Por que em cada lugar vai ter um hospital de média e alta
complexidade, com UTI e tudo. Outra coisa: estamos fazendo um convênio com as
prefeituras, dando R$ 60 mil para pagar o médico e os enfermeiros. Até março, a
gente inaugura o PAM Diamante, e aí vai valer a pena a demora. O povo merece um
serviço de qualidade. Eu fui a Lago dos Rodrigues, onde inaugurei o primeiro
hospital, e está tudo igual a quando entreguei. O povo conserva o local. Agora,
tem muitos hospitais que não foram entregues porque os prefeitos não querem,
porque tudo isso foi assinado com prefeitos (que não se reelegeram). Eu estou
muito otimista. Otimista é minha palavra de ordem. Acho que 2014 vai ser o
coroamento de todas essas ações que nós fizemos. No fim do meu mandato, nós
vamos deixar o Maranhão bem estruturado.
Governadora, o prefeito de
São Luís (Edivaldo Júnior) fala muito em parceria e o Governo do Estado não
parece contrário a isso. Como a senhora vê essa situação?
Não somos contrários. Ele
fala em parceria, mas só quer dinheiro. Parceria é outra coisa. Por exemplo,
uma parceria na área de sustentabilidade, quando eu faço a Avenida do Quarto
Centenário, quando eu faço a Via Expressa, quando eu estou duplicando a
Holandeses, é uma parceria, ou não é? Mas ele não aceita aquilo como parceria.
Ele quer dinheiro. Eu tenho parcerias com a União nas quais eu não recebo um
tostão, mas eu tenho a parceria com ela. Agora, nós vamos fazer essa parceria,
mas estou desde os protestos esperando uma resposta dele a um telefonema meu,
mas ele nunca veio. Ele quer uma parceria na saúde, mas essa parceria é para a
gente sustentar o Socorrão. Isso é inviável, porque eu não tenho dinheiro. Até
faria, se eu tivesse. Parceria não quer dizer dinheiro e sim cooperação. Eu
faço esse serviço, ele faz aquele. Ou eu tomo conta dessa avenida, ele toma
daquela. Ou você faz uma parceria no Carnaval, no São João, numa festa da
cidade. Eu estou à disposição. Eu sempre fiz parceria, até porque eu sempre
trabalhei pela cidade, porque quando você trabalha por qualquer cidade está
fazendo uma parceria com o prefeito. Ou não é? E se ele quiser vir falar
comigo, tudo bem. Eu já chamei, ele mandou uma equipe, o chefe de gabinete veio
falar com João Abreu (chefe da Casa Civil), mas ele não vem conversar. Isso não
é uma crítica, eu não estou fazendo crítica, mas na realidade não existe uma
parceria porque parceria não é necessariamente dinheiro. No que precisar, nós
estamos na parceria. Eu quero pelo menos conversar com ele, para saber o que
ele pensa sobre parceria. Semana passada veio vieram aqui falar de parceria na
saúde, que seria tomar conta do Socorrão, mas parceria é oferecer saúde de
qualidade para a população. Mas nós já estamos com dois hospitais aqui, vamos
entregar o terceiro, que é o PAM Diamante, que vai dar mais saúde para a
população. Já entramos com cinco UPAs. Isso tudo é uma parceria. Com as UPAs,
eu tenho certeza de que melhorou muito esse atendimento do Socorrão. Nós
estamos abertos a ele ou a qualquer outro prefeito. Parceria é você trabalhar
em conjunto para melhorar a situação do povo.
Governadora, a senhora falou
em parcerias com o Município e um dos problemas da capital é a mobilidade
urbana. Nessa área, o Governo está construindo grandes avenidas, como a Via
Expressa e a Quarto Centenário. Quando estas obras serão entregues?
Já era para termos entregue
a Via Expressa e a Quarto Centenário. A firma que construía a Quarto Centenário
faliu. Não foi um problema nosso. Nós estamos tentando resolver para entregá-la
em fevereiro. E na Via Expressa nós tivemos aquele problema do Vinhais Velho,
que atrasou um pouco, mas estamos dando andamento agora sem maiores problemas.
As duas avenidas serão entregues em fevereiro, assim como a urbanização do
Espigão (da Ponta dAreia), que esperamos entregar em fevereiro, e a duplicação
da Holandeses, além de outras obras que estamos fazendo, menores, mas que
estamos fazendo em São Luís são para serem entregues agora. Mas já entregamos
uma escola no Coroado, estamos fazendo a Unidade de Polícia Comunitária (UPC),
já entregamos a da Vila Luizão e vamos entregar uma no Coroado. Já colocamos à
disposição da população de São Luís quatro Restaurantes Populares. Enfim, são
várias obras, de menor porte, que estão sendo feitas em São Luís, mas também
temos obras no Maranhão todo. E uma coisa que eu estou ansiosa e que atrasou
foi o Italuís. Fizemos um empréstimo na Caixa Econômica para fazermos essa
obra, mas a Caixa atrasou o repasse desde setembro e os empresários estavam
querendo parar. Nós estamos tentando fazer uma negociação para resolver e poder
entregar o mais rápido possível. Mas tem outra coisa. São Luís é abastecida pelo
Italuís, pelo Sistema Sacavém, e pelo Batatã, que está com problema porque está
sem água. Se não chover logo, teremos muitos problemas.
O Governo afirma que houve
avanços na educação. Foi assinado o Estatuto do Magistério, que era uma demanda
antiga dos professores. Foi discutida a criação de um Plano de Estado para
Educação, durante Conferência Estadual. As escolas começaram a receber tablets,
entre outras conquistas. Quais são os desafios do Maranhão para continuar
avançando em 2014 nesta área?
Nós temos dois grandes
desafios. Um deles é conscientizar nossos professores, os alunos e a família do
papel de cada um, porque estrutura nós estamos dando. Estamos abrindo agora os
centros de treinamento para os professores. Então, a conscientização dos professores
de que têm que ensinar, dos alunos de que têm que aprender e da família, porque
ninguém vai a lugar nenhum se não tiver a família. Outro ponto é que o Maranhão
ainda é o estado mais rural do Brasil. Nós temos muitos professores, mas você
colocar um bom e uma escola de ensino médio em um lugarejo onde tem 30
famílias, isto nós não temos condições, nós não temos recursos, nem professores
para ir. Esses dois são problemas sérios. Além disso, não temos professores nas
áreas de exatas e de línguas. Por mais que se faça concursos, não conseguimos
contratar professores de física, de química, de matemática e de línguas. A
gente já fez um concurso para 5.500 professores e só conseguimos preencher três
mil e poucas vagas.
Onde está o problema para a
falta de mão de obra capacitada?
O problema é estrutural no
Brasil inteiro, mas no Maranhão é maior por causa da nossa área rural.
E quanto aos avanços mais
recentes na educação?
Nós conseguimos passar em
torno de 90% das escolas do ensino básico para as prefeituras, e isso é uma
coisa boa. Estamos conseguindo montar agora o ensino médio, e estamos pensando
em utilizar o ensino à distância novamente. Os avanços são estes, o treinamento
dos professores, o tablet que a gente deu, as condições escolares que a gente
melhorou, pegamos mais de 7 mil professores fora da sala de aula. O maior
avanço foi o Estatuto do Magistério e as promoções, progressões. Tudo isto nós
fizemos. Assim como nós fizemos também o Plano de Cargo e Carreiras do Servidor
Estadual. Eu desconheço estado que já tenha feito isso. Ah, e o dos militares
também.
Governadora, um tema que
está em evidência no estado é a segurança. O que a senhora tem a dizer sobre o
assunto?
Nós demos um grande avanço
na área de segurança com as mudanças que fizemos. O problema são os presídios,
onde nós temos deficiência, porque eram ambientes viciados. Então, quando a
gente conseguiu trocar o secretário e ele colocou a mão na ferida, aconteceu
que agentes penitenciários ficaram contra, porque existia um processo de anos
em que não se faz isso. E quando nós botamos a mão na ferida, começaram as
chantagens, as mortes, para que a gente derrubasse o secretário, para que eles
pudessem ter de novo as liberdades que eles tinham, mas nós sustentamos. Nós
temos hoje 2.700 presos, mas mais da metade deles não foi julgada pela Justiça.
É provisória. A Justiça é lenta. Também temos esse problema. Nós gastamos R$
3.500,00 com um preso e o Maranhão não é rico para gastar isso com ele. Estamos
respondendo o relatório do CNJ, reunindo todos os dados. Hoje, temos condenados
718 presos e 1.973 à espera da Justiça. A população carcerária total é 2.704,
274% a mais à espera da Justiça. Por isso é que há essa superpopulação. Mandam
todo mundo para lá. Só os que aguardam julgamento excedem a capacidade de
Pedrinhas. Nós temos deficiências.
E a inspeção do CNJ?
Eu estou revoltada porque
aquele vídeo não é daqui, é dos Estados Unidos. E foi avisado, o (Sebastião)
Uchôa – secretário de Justiça e Administração Penitenciária – avisou, mas o
juiz botou no relatório, e o Brasil inteiro achando que aquele vídeo é daqui.
Não existiu estupro em Pedrinhas, mas só hoje nós conseguimos comprovar. Foi
aberto inquérito, chamamos os agentes que entregaram o vídeo para serem
interrogados e eles disseram que o vídeo é dos Estados Unidos. E eles (os
membros da comissão do CNJ) não visitaram o local porque era dia de visita, não
foi proibido. Em 2004, durante o Governo José Reinaldo, firmaram dois convênios
para a construção dos presídios no sistema de pré-moldados em Pinheiro e Santa
Inês, mas nada foi feito. Em 2006, o (governador) Jackson (Lago) também não
fez. Em 2009, no fim do ano, o prefeito de Pinheiro orientou os vereadores a votarem
uma lei proibindo a construção do presídio no município. Em 2010, foi o ano da
eleição, não se andou com isso. Em 2011, eu eleita, aconteceram as decapitações
daqueles presos em Pedrinhas. O ministro da Justiça esteve aqui e disse que em
três meses nós teríamos dois presídios aqui. Firmamos dois convênios, Pinheiro
e Santa Inês, para a construção dos presídios no sistema de pré-moldados.
Quando já estava em processo de licitação, veio uma contraordem do ministério
dizendo que não era possível seguir com o processo naquele modelo de
pré-moldado, pois o Governo Federal não aceitaria aplicar os recursos e que
eles indicariam um novo sistema. Nós perguntamos para eles antes, que disseram
tudo bem fazer em pré-moldados, nos deram até os nomes de umas firmas que
estavam fazendo em Salvador e outros locais. Mandamos licitar dessa forma e um
promotor de Goiás dizendo que estas firmas eram inidôneas. Daí eles mandaram
imediatamente uma ordem para suspender. Nós tiramos da licitação e eles pediram
para modificar o projeto. Modificamos o projeto para construir da forma
convencional. Mandamos para eles e eles não nos deram resposta. No dia 29 de
junho, nos disseram que estava tudo ok e no dia 30 de junho eles pegaram os R$
22 milhões de volta, alegando que havia um decreto da presidência segundo o
qual, como nós não tínhamos começado a construção teria que pegar o dinheiro de
volta, mas não começamos por causa desse problema. Mas agora nós estamos
fazendo com o dinheiro do Estado, o que eu particularmente acho um absurdo,
porque se há um departamento penitenciário, eles (os órgãos federais) deveriam
nos dar o projeto. Podem fazer tudo lá, até a licitação e a execução da obra.
Agora, o Estado, que é pobre, terá de construir sete penitenciárias. A gente
não sabe nem se precisa, porque há 1.900 presos aguardando julgamento. Cada
preso desses custa para o Estado R$ 3.500,00, e a tendência agora é terceirizar
essas penitenciárias.
Além da questão
penitenciária, houve avanços na segurança pública?
Nós fizemos uma reformulação
na segurança pública. De qualquer forma, a violência teve um aumento no Brasil
todo e no Maranhão foi proporcional. Essa violência está aumentando por causa
das drogas. Nós temos participação? Temos, porque é dentro do nosso estado, mas
nós deveríamos ter um reforço nas fronteiras, porque as drogas entram pelas
fronteiras. A Polícia Federal deveria ser mais ágil nesse ponto, porque está
sobrecarregando os estados. Nós melhoramos colocando as câmeras de
videomonitoramento nas avenidas, compramos carros, motos e armas, realizamos
concurso público. A segurança está melhorando. Mudamos a direção da polícia.
Tem uma melhora mais sensível.
Governadora, a senhora
estava falando de investimentos. A gente tem aqui no Maranhão um centro de
lançamentos que é um dos mais importantes do mundo e ano que vem vai retomar o
lançamento de foguetes de grande porte, que é o caso do VLS. De que forma o
Governo do Estado está fazendo parcerias para que a gente possa aproveitar
também esses investimentos espaciais?
Veja bem. Nós participamos
quando foi feito aquele acordo com a Ucrância, com a Cyclone. Enquanto o
Roberto Amaral estava na presidência, ele vinha e a gente conversava. Depois,
parece que houve uma parada e nós ainda não retomamos a conversa. A princípio,
o que eu pedi a eles foi que nós montássemos um centro de estudos em Alcântara.
Para que a gente possa aproveitar nossos jovens lá, onde vai ser montada uma
escola técnica, para que também forme os técnicos que possam trabalhar lá e
também nos ajudar aqui. Então, isso está mais ou menos acertado. Nós estamos
aguardando a definição do Governo Federal porque isso é uma decisão deles.
Quando foi feito o acordo da Ucrânia eu estava no Senado, e fui a relatora do
projeto, mas depois foi tendo modificações, e o que eu pude fazer nesse
intervalo em que deu essa parada foi a ida do IFMA para lá. Eu pedi que eles
montassem uma sala do ITA para pegar nossos alunos lá. Uma parceria que nós
conseguimos muito forte com o Lula e a Dilma foi colocar muitos IFMAs no
Maranhão. Isso é uma parceria. Eu não tive dinheiro nenhum. A parceria foi
conseguir que os prefeitos dessem os terrenos, mas foram eles que montaram
tudo. E eu acho que foi das melhores parcerias que nós fizemos. Quando eu
estava no Senado, nós trouxemos 18 IFMAs, e depois eles fizeram mais 10. E
também conseguimos com a UFMA montar mais três faculdades de Medicina no
Maranhão. Uma parceria que eu acho que é excepcional para a gente.
Governadora, chegou o ano
eleitoral, e a senhora comanda um grupo com 15 partidos que têm
representatividade na Assembleia, no Congresso, na base do Governo. Como é que
o grupo chega em 2014?
Nós estamos chegando até
agora unidos. Até agora, não tivemos nenhuma grande perda de que eu tomasse
conhecimento. Enfim, é um ano eleitoral. Se perde aqui, ganha ali, isso sempre
acontece. Mas nós estamos chegando para disputar, com chance de ganhar, com um
bom candidato, com uma estrutura forte de partido, de lideranças políticas e
com trabalhos feitos para o Maranhão que nos habilitam a termos candidatos
próprios não só para governador, mas para senador, deputado federal e estadual.
Qual sua avaliação sobre o
pré-candidato Luis Fernando Silva?
Não é uma escolha pessoal. É
uma escolha do grupo. Recaiu sobre ele porque teve uma experiência administrativa
muito exitosa. É um jovem preparado, professor universitário, e conhece a
máquina do Governo do Estado. Para que isso pudesse ir adiante, todo mundo
achou que precisava de alguém que tivesse experiência. O Maranhão hoje está
passando por um período de mudanças muito positivas. Nós preparamos a
infraestrutura necessária e hoje é um estado que se desenvolve e rapidamente
está se industrializando e está crescendo mais q1ue o Brasil. Se você pega os
dados do IBGE de 2009, que foi o ano em que eu entrei, com um PIB de R$ 38
bilhões e pega 2011 com um PIB de R$ 53 bilhões, você vê o crescimento
estupendo do estado. Então, precisava de uma pessoa que levasse isso adiante,
porque as pessoas às vezes não mudam nada e tudo vai para trás, nada vai à
frente. Então, nós entramos e o que fizemos? Nós atraímos indústrias e
investimentos, geramos empregos. Estamos preparando os jovens com o Maranhão
Profissional. O Maranhão está efervescendo, realmente. Se você for para o
interior, para Godofredo Viana, que foi um dos municípios que mais cresceram,
que tem mais de 1.500 empregos diretos gerados pela mineradora; se você vai ali
a Centro Novo, onde fiz a estrada, está sendo montada outra mineradora. Se você
vai no centro do estado, você vê o gás lá em Santo Antônio dos Lopes. Você vai
por ali tudo e não encontra uma vaga de hotel. Eu paguei em um hotel de
Presidente Dutra uma diária de R$ 380,00. Quer dizer, é tudo lotado o tempo
inteiro. Hoje, o Maranhão já é a capital da energia do país em energia
termoelétrica. Nós já somos o primeiro estado, quando há três anos nós éramos
zero. Se você vai para Paulino Neves, já tem lá um projeto para começar a
exploração da energia eólica. Se vai para Imperatriz, a Suzano atraiu mais duas
empresas para lá. Tem também a aciaria de Açailândia. Só nesses últimos tempos,
780 novas empresas se cadastraram no Maranhão. Então, realmente é uma coisa
para a gente se orgulhar.
Semana passada, foram
reabertas as conversas com o PSDB, que hoje faz parte do campo da oposição. Há
uma possibilidade real de aliança com o PSDB ou outro partido oposicionista?
Eu não estou fazendo essas
conversas. Quem está fazendo isso é o próprio candidato, evidentemente esta é
uma atribuição do candidato. É Luis Fernando quem está fazendo estas conversas.
É ele quem está mobilizando para fazer essas conversas. E é assim que tem de
ser. O candidato é quem abre a conversa.
Em relação ao Senado, já há
alguma definição?
Não, não tem definição para
o Senado.
Que avaliação a senhora faz
da relação do Executivo com o Poder Legislativo e da relação da governadora
Roseana Sarney com o prefeito de São Luís, Edivaldo Junior?
Minha relação com o Poder
Legislativo sempre foi muito boa. Nunca tive nenhum problema. Evidentemente que
eu sou acostumada. Fui deputada federal também, fui senadora e essa relação,
que às vezes muitas pessoas acham que são críticas, nós nunca tivemos nenhuma
crise, e eu me dou muito bem com o Poder legislativo. E com Edivaldo (Júnior)
eu também nunca tive nenhum problema com ele. Gosto dele, acho ele um rapaz
bom. Acredito até que o problema não é comigo, o problema é da base dele. Acho
até que ele quer vir conversar comigo. E eu me dou bem com ele. No que eu puder
ajudar, evidentemente eu ajudarei.
Em relação aos secretários
que devem se candidatar em 2014, quando eles se afastam, como é que o Governo
vai recompor os quadros?
Isso é um problema. Eu quero
que eles se afastem agora, até dia 15 de janeiro, mas talvez não vá dar tempo,
porque eu tive um problema com minha mãe, que quebrou o joelho e vai ter que
operar, e também porque fim de ano todo mundo tira o pé do acelerador, muita
gente viaja. Então, eu estou esperando todo mundo chegar para que a gente possa
conversar e entrar em um entendimento. Agora, como são muitos – tenho a
impressão de que giram em torno de 10, 12 -, a gente colocar isso não é fácil
porque, como é ano de eleição, muita gente vai querer ficar com sua base, e eu
vou colocar técnicos nessa recomposição. Minha intenção é colocar técnicos. Eu
quero que tenha uma imparcialidade no Governo porque tem muitos candidatos e
todos os deputados e secretários me ajudaram. Então, que se empate o jogo, nas
mesmas condições para a disputa.
Governadora, a senhora
estava falando arrumando o cabelo. Dá tempo de manter a vaidade mesmo com tanto
trabalho? A senhora cuida da alimentação? E como está a saúde?
Não muito, mas eu tento.
Claro que mulher sempre gosta de se ajeitar. Eu não sou diferente de nenhuma
mulher. Eu gosto de cozinhar, eu gosto de ser dona de casa, eu gosto de botar
um arranjo de flor. Não gosto de quando fico mais gorda. Tudo isso é
preocupação de mulher normal. Eu sou uma mulher normal como outra qualquer. A
velhice está chegando. Então, eu tenho que me preparar, passar um creme melhor.
Mas eu não tenho muito tempo. Essa é a realidade. Não sou extremamente vaidosa,
mas eu sou cuidadosa comigo mesma. Não faço ginástica – uma falha que eu tenho,
impressionante -, também não cuido muito da alimentação. A minha saúde não é das
melhores. Até que com a velhice está melhorando, mas eu tento encarar com
naturalidade, porque se não fosse assim eu seria o tempo inteiro uma pobre
coitada e eu não quero ser isso.
Do Jornal O Estado do Maranhão
1 Comentários
Tem jeito não...Maranhão com tantos problemas...o pior estado do Brasil e ainda diz que ta bom em outras palavras..forasarney.......
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