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Executor do jornalista de O Estado foi sentenciado após dois dias de julgamento; Marcos Bruno foi condenado a 18 anos.

Depois de dois dias de julgamento, Jhonatan de Sousa Silva e Marcos Bruno de Oliveira - acusados, com base em investigações feitas pela polícia de envolvimento direto no assassinato do jornalista de O Estado e blogueiro, Décio Sá, registrado no dia 23 de abril de 2012 - foram condenados, no fim da noite de ontem, respectivamente a 25 anos e 3 meses e a 18 anos e 3 meses de cadeia. Ainda de acordo com a sentença, a pena deverá ser cumprida inicialmente, para ambos os réus, em regime fechado.

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No segundo e último dia de julgamento, Jhonatan de Sousa e Marcos Bruno de Oliveira mudaram seus depoimentos, mas foram "encurralados" pelo corpo de promotores de Justiça, na sessão presidida pelo juiz Osmar Gomes dos Santos, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri. O assassino confesso do jornalista Décio Sá, por exemplo, ao contrário do que já havia afirmado em juízo, disse não ter sido contratado pelo empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, mas apenas por seu "cobrador de cheques", identificado como Neguinho Barrão, e que este sim teria sido seu verdadeiro piloto de fuga.

"Eu menti, quando acusei o Júnior Bolinha, porque fiquei com muita raiva dele, pois imaginei que, como Neguinho não pagou o que me prometeu [R$ 100 mil pela morte de Décio Sá], poderia ter sido ele o verdadeiro contratante. Eu só queria encontrar um culpado para tudo, e como sempre o via andando com Neguinho, quis me vingar nele", adiantou o pistoleiro paraense, que continuou isentando o segundo réu de participação na morte do jornalista. "Foi Neguinho quem pilotou a moto para que eu fizesse o serviço e depois fugisse", afirmou o assassino confesso da morte do blogueiro.

Durante a última instrução a que foi submetido, Jhonatan Silva, de 25 anos, também reafirmou detalhes de como teria praticado o crime, na noite do dia 23 de abril de 2012, no Bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, em São Luís. Ele disse estar profundamente arrependido de ter tirado a vida do jornalista por dinheiro, mas caiu em contradição, ao ser "encurralado" nos questionamentos do promotor de Justiça, Rodolfo Soares dos Reis, representando a 1ª Promotoria do Tribunal do Júri, ao ser indagado sobre o porquê de ter protegido Neguinho Barrão, mesmo depois de ele ter lhe aplicado um calote.

Embaraço - O promotor, auxiliado pelos também promotores Haroldo Paiva de Brito e Benedito de Jesus Nascimento Neto, o Benedito Coroba, também mostrou trechos do depoimento do assassino, nos quais o réu menciona Neguinho Barrão como homem de confiança do empresário Júnior Bolinha; e ainda outra pessoa identificada apena como Diego, então suposto cúmplice no crime. Embaraçado, Jhonatan Silva também se comprometeu ao responder perguntas de seu envolvimento na morte do empresário Fábio Brasil, crime ocorrido em Teresina-PI, 23 dias antes da morte de Décio Sá.

"Senhor Jhonatan, o senhor acaba de se contradizer, ao afirmar que bancou, do próprio bolso, sua hospedagem na capital piauiense, e ao mesmo tempo disse que só aceitou matar Fábio Brasil e Décio Sá porque havia acabado de deixar a prisão, e estava sem dinheiro. Como pode isso acontecer?", questionou o promotor, que ficou indignado com o silêncio do assassino, e aproveitou para fazer um desabafo sobre a legislação brasileira. "O senhor, seu Jhonatan, só se sente à vontade para mudar tantas vezes seus depoimentos, tanto à polícia quanto à Justiça, porque a lei é frouxa", disparou o promotor de Justiça.

"Se nossos legisladores fossem mais compromissados, o senhor, seu Jhonatan, também seria punido pelas suas variadas declarações", completou o representante do Ministério Público Estadual, referindo-se ao fato de o réu não ser obrigado falar a verdade, ao contrário das testemunhas, e assim produzir provas contra si. Na última oitiva, o jovem pistoleiro paraense também revelou ter recebido a informação, mesmo custodiado no Presídio Federal de Segurança Máxima da cidade de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, de que Neguinho Barrão teria sido preso e morto no Pará.

Após três horas e meia atendendo às demandas da acusação e de sua defesa, o assassino cedeu o banco dos réus ao bacabalense Marcos Bruno de Oliveira, de 28 anos. Acusado de ter pilotado a moto usada na morte do jornalista contou que foi preso na cidade de Divinópolis-MG e que assinou um depoimento pronto, imaginando ser o documento uma confirmação da presença da comissão de delegados da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) do Maranhão e uma transferência para a capital maranhense. O réu também afirmou ter sido torturado para confessar o crime.

Da mesma forma que o assassino, Marcos Bruno de Oliveira também se embaraçou ao responder aos questionamentos dos promotores. "Eu não tenho o perfil de uma pessoa que faz esse tipo de coisa", se defendeu o réu, prontamente contestado pela acusação. "Estranho, senhor Marcos Bruno, o senhor alegar não ter perfil de criminoso, se o senhor foi preso em meio a uma quadrilha de hackers, clonando cartões de pessoas inocentes para gastar em nome de terceiros; negociar carros financiados e até usar CPFs de terceiros para validar chips de celular, quando estava foragido", se admirou o promotor.

Promotores apresentam provas e derrubam os argumentos da defesa

Durante pouco mais de duas horas, os promotores Rodolfo Soares dos Reis, Haroldo Paiva de Brito e Benedito de Jesus Nascimento Neto, o Benedito Coroba, expuseram provas colhidas durante os depoimentos prestados à polícia pelos réus, como o rastreamento do celular do Jhonatan na praia da Ponta d´Areia no dia e na hora do crime, além de ter sido citada a repercussão do crime, tanto em âmbito estadual, como nacional. Na explanação, Benedito Coroba disse que os réus não poderiam ficar impunes, dado o prejuízo à sociedade democrática, aos bons costumes e, principalmente, aos danos causados à família de Décio Sá. Ao contrário do que se pensava, a acusação não fez uso de áudios e vídeos durante a exposição dos argumentos.

A defesa começou a expor os seus argumentos por volta das 18h45 de ontem. Durante boa parte da exposição, feita pelo advogado Pedro Jarbas, os réus permaneceram de cabeça baixa. A defesa baseou sua tese inicialmente - após citar nominalmente cada um dos jurados presentes - se dirigindo aos acusados. Pedro Jarbas, falando diretamente a Jhonatan, logo nos primeiros minutos de exposição, afirmou que o assassino confesso de Décio Sá seria condenado. No entanto, garantindo que a defesa conferiria aos réus um "julgamento justo".

Em seguida, Pedro Jarbas afirmou que tecnicamente "não havia provas" contra Marcos Bruno. Dirigindo-se agora ao júri, Pedro Jarbas citou os trechos de depoimentos dados no primeiro dia do julgamento por pessoas que estavam em um ciclo de orações numa duna, usada supostamente por Jhonatan durante a fuga, no dia do crime. Para o advogado, não havia elementos suficientes para que estes depoimentos fossem anexados ao processo. Segundo Pedro Jarbas, em nenhum momento Marcos Bruno foi descrito fisicamente com veracidade pelas testemunhas classificadas pelo advogado como "oculares". Ao citar que os depoimentos das testemunhas do grupo de oração foram "inconstitucionais", Pedro Jarbas foi interrompido pelo juiz Osmar Gomes dos Santos, que questionou o argumento, com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na segunda fase de exposição, a defesa - representada pelo advogado José Berillo Leite - chamou de irresponsabilidade, segundo ele, o pré-julgamento feito pela mídia contra o réu Jhonatan. Em seguida, o advogado também tentou enfraquecer a tese de envolvimento de Marcos Bruno no crime. Segundo o advogado, Marcos Bruno só foi citado como possível envolvido no caso por ser "preto e pobre". José Berillo também questionou a descrição física de Marcos Bruno, feita em depoimento, por uma das testemunhas. Ainda de acordo com o advogado, a acusação contra os réus foi apressada pela polícia, pois a vítima (Décio Sá) era bastante conhecida.

Vídeos - Em seguida, a defesa apresentou vídeos de duas das testemunhas que prestaram depoimento à polícia durante o inquérito. Segundo o advogado, ambas foram "coagidas" a basear suas informações de forma que os réus (Jhonatan e Marcos Bruno) fossem envolvidos no crime. O advogado José Berillo, se dirigindo ao júri, pediu que a sentença "seguisse os ditames da lei e da consciência de cada um". Devido aos argumentos colocados pela defesa, a promotoria solicitou réplica.

Após novo intervalo de trinta minutos, por volta das 21h30 de ontem, o promotor Haroldo Paiva de Brito do MP contestou os vídeos apresentados pela defesa. De acordo com o promotor, também não havia fundamento na alegação da defesa de que o réu, Marcos Bruno, foi torturado. "A irmã de Marcos Bruno depôs e não disse nada disso, que o irmão dela havia sido torturado. Ora, senhores e senhoras do júri, como acreditar nisso?", disse.

Após essa fase, o promotor rebateu a tese da defesa de que Jhonatan não "merecia ser acusado por formação de quadrilha". Segundo Haroldo Paiva de Brito, Jhonatan tinha relação direta com Gláucio Alencar (uma das pessoas acusadas de terem financiado o assassinato de Décio Sá). O promotor aproveitou para pedir ao júri pena máxima (30 anos) para Jhonatan Silva. Em seguida, a acusação mostrou fotos do local do crime, no dia em que Décio Sá foi assassinado. "Julguem sem medo. Façam justiça, caros jurados", disse o promotor.

Na sequência, o promotor Benedito de Jesus Nascimento Neto (Benedito Coroba) desqualificou os depoimentos prestados mais cedo pelos réus. "Os réus mentiram. O Ministério Público prova isso. Não é possível que a dor da família do Décio Sá não será levada em consideração", afirmou. O promotor também desconsiderou a tese da defesa de que algumas testemunhas não reconheceram os réus, no dia do crime.

Na tréplica, a defesa - representada pelo advogado Pedro Jarbas voltou a ressaltar, segundo ele, as "falhas" da polícia na resolução do caso. Segundo ele, "o inquérito é lacônico em relação ao Marcos Bruno". Por fim, apelou para os jurados para que "Marcos Bruno não fosse mandado injustamente para a prisão”.

Saulo Maclean
Da editoria de Polícia

O Estado
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