Médicos das UPAs da Grande São Luís fazem greve parcial por causa dos salários atrasados; profissionais só atendem casos graves

Os profissionais estão em paralisação parcial há mais de uma semana. E, enquanto a solução não vem, quem precisa das UPAs tem que esperar horas pelo atendimento

Os pacientes que vão até Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da Grande São Luís não estão conseguindo atendimento médico há mais de uma semana, por causa de uma paralisação parcial dos médicos, que estão reivindicando salários atrasados. Os profissionais só estão atendendo casos graves. E, enquanto a solução não vem, quem precisa das UPAs tem que esperar horas pelo atendimento.

Na Unidade de Pronto Atendimento do Araçagi, que é uma das mais movimentadas da capital, sobra espaço, pois muita gente está voltando para casa sem ser atendida. Esse foi o caso de Yasmim, que está com problema no joelho.

“Eu estou sentindo muita dor na perna e não fui atendida porque os médicos estão em greve, por falta de salário. Só Socorrão ou posto de saúde (estão disponíveis para atendimento)”, lamentou a estudante.

Dona Adalgisa só queria atendimento para o marido que tem diabetes e está com um ferimento no dedo do pé. Depois de ser informada da situação da UPA, decidiu ir embora.

“Tem no mínimo duas horas para ser atendido. Ele tem 88 anos, não tá passando mal, mas, eu não vou ficar aqui duas horas esperando. Graças a Deus eu posso levar ele para outro lugar. E quem não pode?”, questiona a idosa.

Na UPA do bairro Cidade Operária, corredores vazios e mais gente voltando sem ser atendida. Um senhor de 76 anos, que sofre de Parkinson, passou mal em casa, mas não conseguiu chegar ao médico.

“Ele tem Parkinson e tem fraqueza constante que fica oscilando. E a pressão tá baixa, deu pressão baixa. Ele fez o primeiro atendimento e falaram que se for o caso de emergência eles atendem logo, caso de morte. E, se não for, eles estão encaminhando para casa”, informa João Batista, filho do idoso.

Os funcionários das unidades de saúde, que não querem ser identificados, contam que os pacientes passam pela triagem e lá, só os casos classificados como amarelo e vermelho, que são de médio e alto risco, são encaminhados para atendimento médico. O problema, é o tempo que os pacientes levam para ser atendidos.

Médicos das UPAs da Grande São Luís fazem greve parcial por causa dos salários atrasados; profissionais só atendem casos graves — Foto: Reprodução/TV Mirante

Na UPA do Maiobão, tinha muita gente perdendo a paciência de tanto esperar.

“Eu cheguei aqui acho que ainda não era 8h e, até hoje, ainda não fui atendida com ele. Ele passou a noite com febre, tossindo, chega vomita, e ele já teve pneumonia. E eu tô medo, porque é aquela tosse seca e ele está gripado”, disse a avó de um menino que aguardava atendimento na UPA do Maiobão.

A ‘operação tartaruga’ no atendimento nas UPAs já dura mais de duas semanas. Os médicos reivindicam o pagamento dos salários atrasados e o aumento no valor do plantão. Com medo de retaliação, nenhum deles quis gravar entrevista.

De acordo com o diretor do Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I), o reflexo da ‘operação tartaruga’ nas UPAs já afeta as unidades de saúde do município.

“Socorrão I, Socorrão II e Socorrinhos têm tido aumento no quantitativo de atendimento, por conta desse movimento justo, diga-se de passagem, da classe médica. O médico ele tem que ter dignidade no seu atendimento”, explicou o cirurgião Érico Cantanhede.

Os médicos que atendem nas UPAs, assim como em todas as unidades hospitalares da rede estadual, são contratados e pagos pela Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares (EMSERH).

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES), na última sexta-feira (28) o secretário da pasta esteve em reunião com os representantes do Conselho Regional de Medicina e do Sindicato dos Médicos do Maranhão, para discutir com a classe médica sobre a atividade dos profissionais no atendimento aos usuários do SUS da rede estadual, bem como sobre o pagamento dos honorários médicos, mas, até agora, não houve acordo.