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Há cerca de quatro ou cinco anos, algo extraordinário aconteceu com meu amigo, um humilde blogueiro da sua pequena cidade. Famoso apenas entre os moradores locais, ele jamais poderia imaginar que um dia sua carreira daria um salto tão inesperado.

A notícia chegou numa manhã tranquila, quando ele estava revisando as últimas postagens em seu blog. Foi escolhido para uma tarefa que parecia um sonho distante: sair de sua cidade e entrevistar o dono da maior rede de hipermercados do estado. A rede estava prestes a inaugurar uma nova loja justamente na cidade dele, e como parte das comemorações, decidiram convocar meu amigo para uma entrevista exclusiva com o fundador da rede em sua residência na capital.

Tudo seria pago: diárias, hotel, translado. A oportunidade de sua vida estava diante dele, e ele não hesitou em aceitar. A ideia de deixar sua pequena bolha de reconhecimento e explorar novos horizontes era tentadora demais para recusar.

Além da entrevista, ele poderia aproveitar para conhecer a capital, visitar as praias, os shoppings e desfrutar da vida noturna. Mesmo que solitário, ele estava determinado a aproveitar ao máximo a viagem proporcionada pelo dono da rede de hipermercados.

O blogueiro, que estava acostumado a cobrir eventos locais e a escrever sobre as peculiaridades da sua cidade, agora tinha a chance de entrevistar uma das figuras mais influentes do estado. A empolgação era palpável, e ele começou a se preparar para a viagem que mudaria sua vida.

Ao chegar na capital e no hotel indicado, na portaria ele soube que não tinha nenhuma reserva em seu nome. O blogueiro ligou para o seu contato junto ao grande hipermercado. Naturalmente, o interlocutor perguntou quanto custava a diária para que ele pudesse se registrar, assegurando que o dinheiro seria encaminhado para sua conta imediatamente. Ele informou o valor e, logo depois, percebeu que seu celular apitava com uma notificação indicando a transferência bancária correspondente ao valor da diária.

Em seguida, ele recebeu instruções de que tudo o que precisasse gastar com alimentação e transporte também seria pago, e que ele poderia ficar tranquilo. Recebeu o endereço da casa onde morava o dono do hipermercado para estar lá às nove da manhã. Caso não tivesse um carro, poderia contratar um táxi, pois o dinheiro seria reembolsado.

Quando foi de manhã, por volta de oito horas, o blogueiro pediu um táxi.

Ao chegar no endereço indicado, um muro enorme, antigo, esverdeado, mas protegia uma casa imponente. Ele desceu do táxi e foi caminhando até a portaria ou guarita. Se identificou para um vigilante, e depois de alguns minutos, foi autorizado a entrar.

Entrou caminhando, embora normalmente as pessoas que visitavam o local entrassem de carro. Andou muitos passos por uma estrada em um terreno arborizado, bem cuidado, até chegar à casa imponente. Com dois pavimentos, a casa tinha vários carros estacionados em frente e ao redor. Era a residência do dono do hipermercado.

Ao entrar, sem ninguém para recepcioná-lo, ele se sentiu aflito e intimidado, mas continuou em frente, passo a passo. "Logo depois da entrevista, vou procurar algo de bom nessa capital," pensou. Shoppings, praias, bares... Ele estava longe do cotidiano de sua velha cidade, e tudo pago pelo homem mais rico de sua cidade.

Ele abordou uma funcionária que passava, e ela indicou onde estava o dono da casa. O empresário estava em um salão, conversando com algumas pessoas. O blogueiro caminhou por um corredor imenso, quase escuro, cheio de quadros e móveis caros e desinformes.

Ele seguiu resoluto, pronto a terminar logo com essa história: entrevistar o homem, anotar o que tinha que ser anotado e cair nesse mundo da capital, mundo novo e diferente do seu cotidiano. Aquele que ficou para trás, mas que logo, logo estaria completamente enterrado naquela vidinha mesmíssima. E foi entrando pelo imenso corredor.

Ao passar por uma porta, o sol eclipsou. Uma piscina, o azul, algumas cadeiras, alguns guarda-sóis. Nossa! Uma mulher deitada, banhava-se ao sol, o corpo ia ficando vermelho. Aquele sol tão forte, tão matinal, tão firme. Ele passou, estancou, pensou algumas vezes, retrocedeu e voltou. Ele olhou, contemplou, desejou e pecou em pensamento. 

Uma mão pegou em seu ombro e o arrancou de seu sonho e de seu devaneio. "Ei, você tá olhando é pra filha do homem, doido. Não tem medo da morte, não? Kkkkkkk."

Era um homem escuro que saiu conduzindo, quase empurrando intimidatoriamente o blogueiro pelo resto do corredor. Ele só teve tempo de balbuciar quem ele era e o que estava lá fazendo. O homem ria, mas segurava-o com força, levando-o adiante, até o magnífico dono do hipermercado. 

O empresário sorriu e apertou sua mão. "Ah, você que é a pessoa! Seja bem-vindo à minha casa. Já tomou café? É um prazer. Vamos conversar bastante sobre a cidade. Muita coisa para dizer."

A conversa animadora do empresário foi melhorando o ânimo do blogueiro, trazendo-o de volta à sua realidade. "Vamos logo fazer a entrevista aqui, vai ser rápida. Meia hora de sua atenção será o suficiente para a gente apresentar o novo empreendimento de seu grupo na nossa cidade."

"Pois vamos começar logo, agora!" respondeu o empresário.

De repente, ele foi abordado por uma pessoa, depois por outra, sobre uma situação, sobre outra. Falavam de um grupo tal, de uma demanda tal, que estavam chegando tantas carradas, e de um navio que teve problemas trazendo mercadorias da China. Enquanto ele ouvia um e outro, gesticulou para o blogueiro com as mãos, sinalizando "só um minuto". Levantou a mão e se afastou.

O funcionário ou segurança apontou um sofá para que ele se sentasse e aguardasse o retorno do dono do hipermercado.

O blogueiro sentou no sofá e ficou olhando o empresário de longe, cercado por três, depois quatro, depois cinco pessoas, e viu ele sendo absorvido por tantos e tantos assuntos. Deram o celular para ele, que conversava alto, e de repente ele entrou numa porta e não foi mais visto. Ele sentiu-se observado pelo funcionário, o segurança escuro.

Passaram-se alguns minutos, meia hora, e ele começou a ficar desassossegado. Não viu mais o dono do hipermercado. "Meu Deus, é um chá de cadeira imenso. Passaria a manhã toda aqui." E, de repente, ele estava sozinho naquela sala; todos sumiram. Ele estava só, completamente só. Sentiu-se pequeno, constrangido, diminuído. Nem sequer o funcionário...

Então ele pôs-se de pé, decidido a ir embora e curtir a capital. Não, ele precisava viver um pouco da vida. Sua vida estava muito parada, monótona. Aquele negócio de zona de conforto. Não, ele vira as costas para o empresário, vira as costas para a sociedade, para a sua realidade. Vira as costas para tudo. Viver um pouco. Saiu caminhando, e não tinha ninguém para impedi-lo. E foi adentrando.

"Oi," disse ele.

A mulher não abriu os olhos.

"Está tudo bem contigo?" insistiu ele.

Foi então que ela ergueu um pouco a cabeça, depois os ombros. Encarou a pessoa que lhe dirigia a palavra. Era um estranho.

"Quem é você?" perguntou ela, assustada.

"Nada. Ninguém," balbuciou ele, sentindo que falou a coisa mais verdadeira do mundo.

Ela o encarou com seus olhos enormes, castanhos e curiosos.

"Como assim, você não é ninguém?"

"Eu vim falar com teu pai, mas no pouco do nosso contato, percebi o quanto sou nada e teu pai é inacessível para mim."

Ao dizer isso, a jovem de cabelos negros longos e pele branca foi tomada por um sentimento ou emoção tão íntima e familiar.

"Menino, quem é você mesmo?" perguntou ela, em um misto de riso e deboche.


Obs.:

Talvez amanhã eu termine essa história 


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3 Comentários

  1. HISTORIA PRA BOI DORMIR KKKKKKK

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  2. esta quase bom. pode colocar um pouco mais de suspense, eu teria demorado mais para acertar as coisas no hotel fazendo parecer que de inicio havia caído em um golpe. frisaria mais os perigos da filha do homem mas dando a entender que ela seria rebelde e faria de tudo para irritar o pai. assim abre um leque enorme de possibilidades para continuar a historia.

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